Para o júri, as vítimas demonstraram vínculo plausível entre o uso prolongado do talco e o desenvolvimento do câncer.
Um júri da Corte Superior de Los Angeles determinou que a Johnson & Johnson deve pagar US$ 40 milhões em indenizações a duas mulheres que desenvolveram câncer após anos de uso de produtos de talco da marca. A decisão envolve os casos de Monica Kent, que receberá US$ 18 milhões, e de Deborah Schultz, que, ao lado do marido, foi contemplada com US$ 22 milhões.
Segundo os jurados, as evidências apresentadas demonstram que a Johnson & Johnson tinha conhecimento da presença de amianto — um material reconhecidamente cancerígeno — em parte dos lotes de talco vendidos ao público. Mesmo assim, a empresa não teria informado consumidores, tampouco realizado recall dos produtos suspeitos.
A defesa alegou que os produtos eram seguros e que não houve comprovação suficiente de que o talco teria causado os cânceres das pacientes. Ainda assim, o júri entendeu que a companhia agiu com negligência ao não alertar o público sobre riscos potenciais. A Johnson & Johnson anunciou que vai recorrer da sentença, reafirmando que seus produtos não contêm amianto.
Este novo julgamento reforça a longa batalha judicial envolvendo a empresa, que enfrenta dezenas de milhares de processos semelhantes nos Estados Unidos. Diversos tribunais já reconheceram a ligação entre o uso prolongado de talco contaminado e o desenvolvimento de câncer de ovário e mesotelioma. Em resposta às pressões judiciais e regulatórias, a Johnson & Johnson retirou o talco à base de minerais de vários mercados, substituindo-o por versões com amido de milho — embora continue afirmando que nunca houve contaminação.
Especialistas em litígios corporativos afirmam que este caso na Califórnia pode influenciar novas decisões, especialmente porque o júri classificou o comportamento da empresa como suficientemente grave para justificar uma compensação milionária. Para as vítimas e suas famílias, o veredito representa o reconhecimento de anos de sofrimento e uma vitória importante na luta por responsabilização.
A disputa, no entanto, está longe do fim. O recurso da Johnson & Johnson deve prolongar o processo por meses, talvez anos, mantendo o tema no centro das discussões sobre saúde pública, transparência corporativa e direitos dos consumidores.
No próximo conteúdo, vamos analisar por que os casos contra fabricantes de cosméticos estão aumentando nos EUA — e como isso impacta a indústria global.