Os culpados são os outros coluna Carlos Brickmann

Publicado por: Editor Feed News
19/06/2022 15:26:20
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Cortesia Editorial Pixabay
Cortesia Editorial Pixabay

Por Carlos Brickmann

Bolsonaro põe a culpa do alto preço dos combustíveis na Petrobras; põe a culpa da morte de Dom Phillips e Bruno Pereira nas vítimas. E, por meio de aliados na imprensa, mas sem se expor, diz que os assassínios ocorreram por ordem de um narcotraficante colombiano – ou seja, que não tem nada com isso.  E as vítimas, onde já se viu, vão desarmados a um lugar inóspito?

 

Comecemos por aqui. O “lugar inóspito” é o Brasil e, efetivamente, a área do rio Javari é perigosa. Há menos de dez guardas para um território quase do tamanho de Portugal. Funai? De suas 39 coordenações regionais, só duas são dirigidas por funcionários concursados. A proteção ambiental foi vítima da “é hora de passar a boiada”. Resultado: o tráfico livre que há muitos anos domina Letícia, na Colômbia, a maior cidade da região, e que foi reforçado pelos narcoguerrilheiros das Farcs, atravessou a fronteira do Brasil e hoje vai pelos rios Solimões e Javari para os portos de envio de produtos ilegais para o Exterior. Muita cocaína, mas não só; madeira ilegal, peixe salgado em tal quantidade que o pirarucu está com a sobrevivência ameaçada, tartarugas e tracajás, animais silvestres. Há brasileiros armados – mas milicianos, como os que infestam o Rio de Janeiro. Mas como policiar, se com isso o garimpo ilegal (que polui as águas com mercúrio) é prejudicado, bem como a pesca predatória e a derrubada da floresta? Foi por isso que Bruno Pereira deixou a Funai para trabalhar diretamente com os índios. E por isso foi assassinado.

 

Tudo, menos...

A alta dos combustíveis é fácil de explicar: o petróleo subiu. Só neste ano foram 50%. O dólar subiu. E o problema vem de longe, desde que o Governo Lula optou por uma refinaria, a Abreu e Lima, em Pernambuco, projetada para trabalhar com petróleo venezuelano, muito denso, quase um piche. A decisão política surge com clareza até no nome da refinaria: Abreu e Lima foi um brasileiro que lutou ao lado de Simon Bolívar pela independência da Venezuela. Operação Tabajara: o presidente venezuelano Hugo Chávez se comprometeu a pagar parte da refinaria e não pagou; o custo projetado se multiplicou algumas vezes. Fim da história: o Brasil tem petróleo, mas não tem como refiná-lo. Precisa importar diesel. Se a Petrobras mantiver preço abaixo do mercado, os outros importadores deixarão de importar, para não ter prejuízo, e faltará diesel. A Petrobras terá prejuízo e sócios minoritários poderão abrir processos contra conselheiros e diretores da empresa, cobrando quantias milionárias das pessoas físicas – que ainda terão de pagar advogado.

 

...a verdade

Seria mais fácil falar a verdade: o petróleo subiu, a Petrobras já não tem a liberdade de ação dos tempos em que foi ordenhada e o Governo vai estudar como garantir a vida dos mais pobres, segurando o gás engarrafado, e reduzir um pouco o diesel, essencial ao transporte. Seria preciso dizer que a gasolina vai ficar mais cara, mesmo. Mas Bolsonaro precisa fingir que não sabe disso: vai cansar de trocar presidentes e conselheiros. Alguém correrá o risco de processos em Nova York? E há mais: os preços estão ainda abaixo do que deveriam e, cedo ou tarde, gasolina e diesel terão de subir perto de 10%.

 

Muito barulho por nada

Quanto a abrir uma CPI, é bobagem. Nem Bolsonaro quer que se revele que a Petrobras segurou o preço da gasolina a partir de 11 de março e o do diesel desde 10 de maio. Quanto a dobrar os impostos sobre os lucros e dividendos da Petrobras, é uma decisão do Congresso. Os atuais conselheiros não são donos da empresa, daqui a pouco tempo vão embora. Quem vai enfrentar o problema serão os Bolsonaro escolher para ocupar o lugar.

 

A questão amazônica

Voltando um pouco atrás, Bolsonaro perdeu também a chance de dizer a verdade sobre o problema amazônico: Chico Mendes foi assassinado quando o presidente era José Sarney, Dorothy Stang no governo Lula, José Cláudio Ribeiro e Maria do Espírito Santo no governo Dilma. Não foi ele que criou o ambiente marginal. Mas, no ódio ao meio-ambiente, trabalhou no desmonte do esquema de vigilância que também atrapalhava os marginais.

 

Entre aspas

Da respeitadíssima coluna de Lauro Jardim, no Globo: “Diogo Piloni, que até o mês passado ocupava o cargo de secretário nacional de Portos e Transportes Aquaviários, recebeu o o.k. da Comissão de Ética Pública da Presidência da República para ser consultor internacional da Til, empresa suíça que administra terminais de contêineres mundo afora. Como secretário de Portos, Piloni foi um entusiasmado defensor da participação de empresas como MSC e Maersk no processo de licitação de terminais de contêineres no Porto de Santos. A Til é uma empresa do grupo MSC.”

 

Piloni trabalhava com o ministro da Infraestrutura Tarcísio de Freitas, hoje candidato bolsonarista ao governo de São Paulo e entusiasmado defensor de reformas em Santos que até agora foram barradas pela Justiça.

 

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