Seu papel pode evitar surtos, prevenir doenças e fortalecer o SUS — se for valorizado.
Enquanto nos postos de saúde os médicos e enfermeiros enfrentam filas e desafios técnicos, há uma força silenciosa e muitas vezes esquecida que pode mudar o jogo da saúde pública no Brasil: o Agente Comunitário de Saúde (ACS).
Ele não atende com jaleco, não prescreve remédios nem faz procedimentos. Mas sabe o nome de cada morador da rua, conhece as histórias, os hábitos, os sintomas silenciosos e os riscos escondidos nas famílias brasileiras. O ACS é a porta de entrada real do SUS — ou deveria ser.
Infelizmente, o que se vê em muitas cidades do país são agentes sem apoio, sem estrutura e muitas vezes sem sequer visitar os domicílios. Como no caso da costureira Lili moradora por mais de 5 anos na Rua Lindoia Tine de Sousa, afirma que nunca recebeu visita da Agente de Saúde, outro morador de 70 anos, também do Bairro Kennedy em Caruaru, endossa que nunca recebeu a visita do SUS em sua porta. Mas o nome da profissional consta regularmente na folha de pagamento da prefeitura. Isso não é exceção — é sintoma de um modelo que precisa urgentemente de revisão.
O que o ACS pode (e deveria) fazer
Segundo a Política Nacional de Atenção Básica, o ACS tem atribuições claras e valiosas:
Visitas domiciliares periódicas
Identificação precoce de sinais e sintomas
Acompanhamento de gestantes, crianças, idosos e pessoas com doenças crônicas
Orientações sobre alimentação, higiene, vacinação, saúde bucal e mental
Prevenção de surtos, acidentes e violência doméstica
Atualização de prontuários e registros digitais (e-SUS)
Mais do que funções técnicas, o ACS tem algo que nenhum outro profissional do sistema tem: a confiança comunitária.
Potencial desperdiçado
O que falta para que esses profissionais assumam o protagonismo? Três palavras: formação, valorização e fiscalização.
Muitos agentes trabalham sem supervisão adequada ou capacitação contínua;
Os salários, em sua maioria, mal ultrapassam o salário mínimo, mesmo com funções de alta responsabilidade;
As metas são mais administrativas do que humanas: contar visitas, e não prevenir doenças.
Enquanto isso, o sistema gasta bilhões tratando doenças que poderiam ser evitadas com escuta, informação e acompanhamento ativo nas casas.
Hora de virar o jogo
A solução não está apenas em contratar mais médicos, mas em empoderar quem já está inserido no cotidiano da população. Dar protagonismo aos ACS significa:
Reduzir internações evitáveis
Antecipar surtos de dengue, gripe e outras doenças
Promover qualidade de vida com base em vínculos e escuta
Reforçar a lógica da saúde preventiva que sustenta o SUS
Convite para o próximo artigo da TVSaúde.Org:
No próximo artigo da série, vamos revelar como o retorno estratégico dos Agentes Comunitários às ruas pode transformar bairros inteiros em zonas de prevenção ativa, com impacto real na redução de doenças crônicas e surtos sazonais.