O que as declarações de renda de Crivella e Paes ao TSE não mostram

Publicado por: Editor Feed News
08/10/2020 07:07:40
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Courtesy Agencia Spotlight
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Vidas franciscanas. Próximas ao voto de pobreza.

 

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É o que está nas declarações de renda dos dois favoritos nas eleições para prefeito do Rio de Janeiro apresentadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Depois de décadas de vidas públicas, ambos citados na justiça em denúncias de corrupção, surgem desprovidos de maiores bens materiais. Marcelo Crivella, atual prefeito, declara um único imóvel. Eduardo Paes, alcaide da cidade por dois mandatos (2009 a 2016), consta nos papeis não tendo imóvel próprio.

 

De acordo com o que foi apresentado ao TSE, em todos esses anos, entre mandatos e atividade de pastor evangélico, Crivella não juntou mais do que R$ 30.839,27 (trinta mil, oitocentos e trinta e nove reais e vinte e sete centavos), somando uma conta corrente e uma aplicação de renda fixa no Banco do Brasil. E um único imóvel. No valor de R$ 634.795,00 (seiscentos e trinta e quatro mil, setecentos e noventa e cinco reais).

 

DECLARAÇÃO DE MARCELO CRIVELLA AO TSE :

 

Embora com poupança um pouco melhor, R$ 401.787,47 (quatrocentos e um mil, setecentos e oitenta e sete reais e quarenta e sete centavos), Eduardo Paes não conseguiu atingir o sonho da casa própria depois de tantos anos na ribalta. Nenhum imóvel na declaração ao TSE. Um veículo comprado em longo financiamento é a única propriedade.

 

DECLARAÇÃO DE EDUARDO PAES AO TSE :

 

Se a história contada nos documentos oficiais entregues ao TSE tem tons de vidas despossuídas, o entorno familiar de ambos é bem mais rico. Imóveis no exterior, propriedades em nome de cônjuges ou pais e até em empresas lá fora de nome curioso como a “Jabulani”. E a prática da moda entre os políticos, que parecem não gostar mesmo de bancos: apartamento pago em espécie. É o que se encontra no entorno de Eduardo Paes e Marcelo Crivella.

 

Sylvia Jane Crivella, casada com o prefeito Marcelo, comprou apartamento em Orlando, na Flórida, em 21 de março de 2011. São 194 metros quadrados que se dividem em dois quartos, dois banheiros, sala e uma aprazível varanda no prédio de quatro andares e oito apartamentos, cercado de palmeiras e colado numa marina com luxuosos iates.

O apartamento foi comprado por US$ 177.000,00 (cento e setenta e sete mil dólares), equivalente hoje a cerca de um milhão de reais. Em fevereiro, um mês antes do mundo parar com a pandemia, uma unidade no mesmo prédio foi vendida por US$ 291.400,00. Em maio, já com a crise na economia mundial, outra unidade foi negociada por US$ 280.000,00, valor de mercado estimado hoje para um apartamento como o da família Crivella, convertíveis em R$ 1.593.200,00 (um milhão, quinhentos e noventa e três mil e duzentos reais).

 

Em 2014, o apartamento foi citado em reportagens do jornal O Globo e da revista Veja. A Agência Sportlight de Jornalismo verificou que logo após a citação em reportagens, o imóvel mudou o nome do proprietário em seus registros e deixou de ser de uma pessoa física, passando para pessoa jurídica, numa operação de venda. Pelo simbólico preço de U$ 100, em operação concretizada em 23 de fevereiro de 2015. A empresa compradora atende pelo sugestivo nome de “Jabulani”, homônima da famosa bola da Copa da África do Sul em 2010, imortalizada na voz de Cid Moreira.

 

No registro de empresas da Flórida, verifica-se que a “Jabulani Investments LLC” foi aberta um mês antes da “compra”, exatamente em 21 de janeiro de 2015. Em nome de “Sylvia Hodge Crivella”, a atual primeira-dama da cidade do Rio. O endereço da “Jabulani” é o mesmo do apartamento de Orlando.


A mudança faz com que o nome “Crivella” saia do registro do proprietário do apartamento, além da mudança para pessoa jurídica também trazer outras vantagens pela legislação da Flórida. Entre outras coisas, diminui ou elimina o imposto sucessório, cujos ônus no estado da Flórida são pesados, podendo chegar a 40% do valor do imóvel em caso de falecimento do proprietário. Quando a aquisição é feita em nome da empresa existe a facilidade de evitar incidência do imposto de transferência de titularidade em caso de morte de um dos donos e os outros donos não são afetados. E ainda isenção de outros impostos.

 

Em 12 de junho de 2013, os Crivella compram outra propriedade na Flórida. No condado de Seminole, uma aprazível casa típica da região, com jardim na frente, sem muro ou grades. Comprada em nome de Sylvia e da filha Deborah na ocasião por US$ 311.000,00 (trezentos e onze mil dólares, equivalentes a atual R$ 1.769.590,00 – um milhão, setecentos e sessenta e nove mil, quinhentos e noventa reais). A Agência Sportlight de Jornalismo tentou falar com Crivella, sem resposta (ver “outro lado” ao fim da reportagem).

Apartamento pago com parte em espécie está no nome do pai de Paes

 

O adversário de Crivella não aparece como proprietário de imóveis na declaração ao TSE. Eduardo Paes paga aluguel, de acordo com o declarado e com resposta para reportagem da Agência Sportlight de Jornalismo publicada em 30 de agosto de 2018. Que mostra relação dele com um apartamento pago em dinheiro vivo e cercado de mistérios e da curiosidade da vizinhança.

 

 

Localizado no bairro da Lagoa, terceiro metro quadrado mais caro do Rio de Janeiro, o imóvel está em nome de Valmar Paes, pai do candidato, como mostram documentos obtidos pela reportagem.
Com seis andares, sendo cinco apartamentos e uma cobertura duplex, o prédio foi erguido pela Mozak Engenharia no sistema de “Obra por Administração”, onde um grupo de condôminos se reúne e arca com o custo integral na proporção das frações de rateio da construção estipuladas previamente.

 

Oito investidores formaram o grupo de condôminos para erguer o prédio de cinco apartamentos, e pagaram aos quatro “outorgantes” que venderam o antigo casarão que estava antes ali. Dos oito que compraram (outorgados), Valmar Paes está denominado nas escrituras como o “Outorgado 8”. O único dos compradores a pagar parte em dinheiro vivo e cheques, como mostram os documentos públicos obtidos em cartório pela reportagem.

 

Parte paga em espécie pelo pai de Eduardo Paes foi de atuais R$ 525.426,91

Valmar Paes consta como tendo pago aos quatro “outorgantes” exatos R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais) pela unidade que está em seu nome. Em valores atuais, corrigidos pelo IGP-M, são R$ 3.346.668,20 (três milhões, trezentos e quarenta e seis mil, seiscentos e sessenta e oito reais e vinte centavos).

 

Nos valores da época da compra (17 de julho de 2013), assim divididos: R$ 1.686,000,00 (um milhão, seiscentos e oitenta e seis reais) em quatro cheques de R$ 421.500,00 (quatrocentos e vinte um mil e quinhentos reais), de origem de uma das suas inúmeras contas no Bradesco da agência Presidente Antônio Carlos, centro do Rio de Janeiro. E os restantes R$ 314.000,00 (trezentos e catorze mil reais), em quatro pagamentos de R$ 78.500,00 em “moeda corrente no país” para cada um dos quatro antigos proprietários, como está nos documentos na parte referente ao “outorgado 8”, Valmar Paes. Os R$ 314.000,00 são atualmente R$ 525.426,91 (quinhentos e vinte cinco mil, quatrocentos e vinte seis reais e noventa e um centavos). A reportagem confirmou com funcionários de cartórios que “moeda corrente no país” significa dinheiro em espécie. Já um servidor de órgão de investigação considerou absolutamente fora de qualquer padrão tal pagamento em espécie para compra de um imóvel.

 

DOCUMENTO DO CARTÓRIO MOSTRANDO PAGAMENTO EM ESPÉCIE

 

Questionado na ocasião da publicação sobre o pagamento em espécie, o atual candidato afirmou que “o apartamento citado, como o repórter mesmo afirma, é de propriedade do meu pai e eu não tenho informações a dar sobre a compra do imóvel”. (ver íntegra ao fim em “outro lado”).

 

Outro ponto em comum entre o imóvel em nome do pai e Eduardo Paes é a licença para construção. O edifício foi construído onde antes existia uma das últimas mansões da Lagoa. A casa não era tombada pelo patrimônio, mas o espelho d’ água da Lagoa sim, o que torna necessária autorização para demolições de casas no local. Foi rápido: em 21 de dezembro de 2012, o processo teve entrada no “Conselho Municipal de Proteção do Patrimônio Cultural” da prefeitura, então sob comando de Eduardo Paes. Em 9 de maio de 2013 a autorização foi concedida. E em 17 de julho daquele 2013, Valmar Paes faz o pagamento.

 

Durante algum tempo, o apartamento foi objeto da curiosidade da vizinhança e de grande mistério para os moradores, que contam ter visto Eduardo Paes no local diversas vezes.
Com 175 metros quadrados que tomam todo o primeiro andar, ficou alguns anos parecendo uma inexpugnável fortaleza. Ignorando a deslumbrante vista para o espelho d’àgua da Lagoa, o proprietário cobriu toda a extensão da fachada com tapadeiras e cortinas brancas. Antes das tapadeiras e cortinas, era possível serem identificadas caixas empilhadas por todo o apartamento, aumentando ainda o burburinho. E, de acordo com o relato de vizinhos, seguranças permaneceriam no interior em tempo integral.

 

 

O barulho dos boatos e a curiosidade no entorno cresceram a partir da madrugada do dia 4 de janeiro de 2018. Em meio a mais uma daquelas tradicionais chuvas de verão do Rio, uma tempestade de vento derrubou a árvore em frente. Que ficou cravada na varanda do apartamento em nome de Valmar Paes.

 

 

De acordo com os mais diferentes relatos, os seguranças do apartamento saíram assustados até entenderem o ocorrido. Pela manhã, os mesmos seguranças teriam impedido a subida de soldados do corpo de bombeiro. Do lado de fora os comentários cresceram. Até que um membro da família chegou e os bombeiros foram autorizados a entrar. Os vizinhos contam que, após a repercussão do episódio, as caixas foram retiradas.

 

Ouvidos pela reportagem, alguns moradores da rua afirmam que o apartamento foi usado também para encontros políticos do ex-prefeito, o que foi negado por Eduardo Paes.

 

Outro lado:

Marcelo Crivella:

A reportagem enviou questões sobre o tema para Marcelo Crivella através da assessoria de imprensa da prefeitura, que pediu para que se entrasse em contato com a assessoria da campanha e forneceu um e-mail. Tentamos contato mas sem resposta.

 

Eduardo Paes:

Na ocasião da publicação da 1ª reportagem, em 30/8/2018, Eduardo Paes foi perguntado sobre o pagamento em espécie e sobre a utilização do imóvel por parte dele:
“O apartamento citado, como o repórter mesmo afirma, é de propriedade do meu pai e eu não tenho informações a dar sobre a compra do imóvel. No ano de 2017 quando morei em Washington, nos EUA, usei o apartamento para guardar minha mobília e alguns pertences de minha família, tendo dormido lá em algumas vindas ao Rio de Janeiro. Quando voltei em definitivo para o Rio, aluguei o apartamento em São Conrado, que vivo hoje com minha família. Não fiz reuniões políticas nesse apartamento do meu pai”.

 

Fonte: Agencia Spotlight

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