Selfie, selfie meu, existe alguém mais lindo do que eu?

Publicado por: Editor Feed News
09/11/2018 19:54:48
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Courtesy Pixabay
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Por Breno Rosostolato*

 

A moda do selfie chegou à internet, embora a novidade mesmo seja o termo, porque o hábito de ficar se fotografando é antigo. O selfie nada mais é do que um autorretrato em que a pessoa pode utilizar desde uma câmera digital, webcam ou smartphone para tirar a própria foto, de um grupo de amigos ou de uma celebridade, com o intuito de compartilha-la em uma rede social. Outra modalidade de selfie recente é a que acontece logo depois da prática sexual (selfie pós–sexo). Casais na cama, cabelos desgrenhados, lençóis amarrotados e expressões maliciosas compõe o cenário libidinoso. O estopim desta coqueluche foi a selfie tirada nos Oscars, onde aparecem várias estrelas de Hollywood, como Meryl Streep, Julia Roberts, Brad Pitt, Angelina Jolie, entre outros.

 

Com o advento das novas tecnologias somadas às redes sociais, o selfie torna-se mais um modismo da contemporaneidade. A questão principal é que em dias em que uma imagem vale mais que mil palavras, se mostrar e aparecer enaltece a vaidade das pessoas. A necessidade de compartilhar fotos de si em situações rotineiras, nas férias de pernas ao vento tendo a piscina de fundo, no trabalho ou de maneira inusitada, como no banheiro de casa ou depois de ter tido relações sexuais é um convite à vida da pessoa, mas também, a busca pela popularidade. As pessoas colecionam “likes” e isso possui efeito prazeroso. Assim é o hábito de tirar fotos das refeições, dos pratos. A pessoa não começa a refeição sem antes registrar a comida e logo compartilhar no facebook ou no instagram, tudo em busca de “likes”.

 

Numa atmosfera imediatista, em que a internet ora facilitou a globalização e acesso imediato a tudo, outrora tornou as pessoas prisioneiras de si mesmas. Os selfies são alimento da vaidade, pois refletem o que seus protagonistas desejarem: felicidade e satisfação. Aparecer nas redes sociais, ter fama e obter reconhecimento dos outros passa a ser o grande objetivo para muitos.

 

As pessoas se sentem autorizadas a revelar suas facetas, suas ideias, pensamentos, concepções e todas as pluralidades de si. Privacidade está em escassez em tempos de vigilância total. Escancaram suas vidas e na verdade, reclamar por privacidade é luxo. O indivíduo é paradoxal. Busca se socializar, por não suportar a solidão, mas torna-se individualista, principalmente quando se refugia na internet. Alguns se enclausuram neste universo e tornam-se reféns a ponto de não conseguir se desconectar.

 

A procura pelo selfie exato ganha proporções alarmantes, principalmente quando a pessoa se desassocia, se fragmenta e para integrar-se faz de sua popularidade virtual a fonte de sua existência, estabelecendo um estilo de vida. A morte emocional acontece quando a vaidade não é enaltecida, os “likes” não são suficientes e o autorretrato não corresponde a fantasiosa felicidade plena. Um caso que ilustra isso foi o de um jovem britânico de 19 anos, Danny Bowman, que aos 15 anos ficou obsecado pela busca pela selfie perfeita. O intuito era captar a melhor pose para assim, chamar a atenção das mulheres. Não satisfeito com as fotos, o adolescente tentou suicidar-se e quase morreu de overdose. O exagero e a obsessão de conseguir a selfie perfeita fez com que ele abandonasse a escola, perdesse mais de dez quilos e por fim, os amigos. O jovem se isolou em casa durante seis meses e mais tarde foi diagnosticado com transtorno obsessivo compulsivo.

 

Narciso, o auto-admirador e que deu origem ao termo narcisismo, foi um jovem que se apaixonou pela própria imagem refletida no rio e morreu permanecendo imóvel à contemplação ininterrupta de sua face. Narciso acha feio o que não é espelho, já dizia o poeta. O espelho, se não estilhaçado, integra e traduz a realidade, na mesma proporção que pode ser severo para algumas pessoas, daí idealizar-se e imaginar-se de outra maneira. A valorização da imagem pode revelar uma falsa felicidade, principalmente se à esta imagem cria-se esperanças de ser reconhecido.

 

A hashtag #aftersex explodiu e o Instagram recebe por dia cerca de 60 milhões de fotos com o propósito de retratar o momento exato após a relação sexual. Retrato da cultura da sexolatria, não tem nada a ver com o rompimento de tabus mas com a própria intimidade, sinal claro da exposição praticada numa sociedade sedenta de fofoca, boato e motivos para falar da vida alheia. Modismos que surgem, talvez, pela falta de referências, e são a tônica para uma parcela da sociedade. A vida alheia é acessada deliberadamente pelas redes sociais, permitida por candidatos ao estrelato relâmpago. Jovens que tornaram as selfies uma exposição desnecessária, em que compartilham com outras pessoas, fotos de si seminus ou mesmo sem roupa alguma, apenas pelo simples fato de tornar-se uma celebridade, chamar atenção e colecionar elogios empobrecidos. Celebridade mesmo que momentânea e efêmera, correndo riscos de ter suas fotos usadas de maneira indevida.

 

O problema não é a selfie, mas o desespero de algumas pessoas em chamar a atenção, expondo-se desnecessariamente. Mas aí está, apresento-lhes o narcisismo desenfreado, o retrato do imediatismo da contemporaneidade, em que uma imagem vale mais do que mil palavras.

 

* Breno Rosostolato é psicólogo e professor da Faculdade Santa Marcelina – FASM.

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